segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

UNS E OUTROS


Uns e outros estão aí
A espreitar por detrás das portas.
Uns e outros estão aí
A torcer narizes,
E a espalhar venenos,
E a apontar os dedos,
E a falar baixinho da vida alheia,
E a se contorcer de inveja.
Seres paridos,
Trazidos e criados
Por mim.
Dentro de casa.
Dentro do peito.
Abraçam-me com braços de covardia,
Amarelados da não-vida,
Desejantes
Da vida vivida pela vida alheia,
Das conquistas conquistadas
Pela vida alheia.
Uns e outros estão aí,
Mascarados de seda vermelha
E olhos de candura.
Pobres diabos!
Lobos com peles de cordeiro,
Sepulcros caiados,
Podridão!
Uns e outros...
Estão aí a espreitar,
A engendrar perdição.
Mas eu,
Eu quero espalhar-me de não ver,
Evadir-me de não ouvir
Essa soma de contradições contraditas
E arquitetadas.
Quero espalhar-me e soprar-me
Para mais exibir
Meus pedaços plenos de vida.
E sem ressentimento de
Uns e outros
Sonhar encontros
Com uns e outros
Que não espreitem
Da vida
Senão a própria...



sábado, 29 de janeiro de 2011

ONDE ANDARÁ ALEGRIA?

ALEGRIA
é menina de pernas finas
e longas tranças
que rodopia pela vida
em andanças
ensinando a todos a sua dança...
ALEGRIA, ALEGRIA,
menina caprichosa
de pernas finas e formosa
 que de tanto correr por aí
com suas longas tranças,
de laço de fita cor-de-rosa,
Sumiu!
Quem viu?
Onde andará Alegria?
Por aí, voando,
Livre, tal qual borboleta arredia.

Porque ALEGRIA
 é borboleta transparente
que brinca de esconde-esconde
por entre as teias da vida.
Ora aparece, ora desaparece...
...Mas existe.
E é LINDA.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MENINA ALUADA

Ah Maria menina,
menina aluada,
que vive na janela
olhando a lua, fascinada!
Vive alta e CHEIA
avessa a contenções,
sem pudor ou vergonha
inunda-se, suntuosa, de  emoções...
Onde ela anda
é outro céu
e sabe beber o doce
e o amargo fel.
Vez em quando, esvazia-se
 MINGUANTE até chover,
porque sabe de  seu  avesso,
De seu outra vez CRESCER...

Ah menina Maria,
Maria aluada!
Conta pra mim o teu segredo
de magia enluarada,
que te refaz e te acende NOVA,
e me ensina a viver plena
as minhas fases
numa composição eterna,
uma eterna iluminada...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CINDERELA DO AVESSO


Cinderela de verdade do avesso,
Vivendo sonhos fartos e atrevidos
De sapatinhos de cristal
E príncipe encantado,
Com nariz empinado
Jurando que é imortal,
E que todo o encanto
Não termina à meia noite
Como o da história tal.
Lança-se à sorte
Da sua independência ou morte.
Entrega-se à dança
Dos destinos e dos salões.
Já conhece o jazz e o blues
E o bálsamo
Pra fingir não doer o amor.
Esquece até o hábito de sofrer
E tenta outra vez a sorte,
Pois o seu príncipe encantado
Que virou sapo no dia seguinte,
Mostrava-lhe flores novas
Com cheiros velhos
E velhas cores.
Seus olhos agora
São as meninas dos seus olhos
E vêem da vida o lado bom,
De um paraíso perigoso com flores novas
De cheiros novos.
Suas mãos
Vão construindo e destruindo
Histórias do avesso
De cinderelas desencantadas,
Jurando amor eterno
À luz do luar.
Seu coração,
Esse não desiste jamais.
E pensa sempre no amor,
Que a faz corada e linda,
Uma princesinha de contos de fada
Do avesso.
E dá-lhe relógio, princesinha,
Pois à meia-noite,
Seja ela qual for,
Tudo é igual,
Como na história tal.
Será que é ser muito radical?

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

BEM-QUERER ESCONDIDINHO

Teu corpo tem feito bem ao meu.
Fosse no tempo da minha avó
Diriam “mal”.
Entrego-me.
Eu em você,
Você e eu.
Nós em nossos segredos e pecados.
Pecadinhos estridentes,
Segredos que ninguém desconfia...
Nossos.
E a felicidade assim
É boa e farta.
Não paira no ar,
Mas escondidinha vive alta
Como lua no céu.
E brilha secreta,
Dentro e quietinha.
Às vezes, cheia e farta
Quer evadir-se,
fumaça no céu,
Mas sufoco-a no peito
E lá fica
Como alegrias de infância
E confidências de adolescente.
E fico vivendo-a assim:
Escondidinha e cheia e farta.
E a gente querendo dançar,
Só nós e o mar.
Todo o mar,
E o pôr-do-sol,
E os postais de nós distraídos.
Nós,
Mais ninguém.
Bem no escondidinho...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ESTILHAÇOS

Atormenta-me no espelho
um reflexo de amor PASSADO,
Tal qual madrasta má
das teias da minha inquisição,
Efeito de praga rogada
sete anos de azar
bem pegada no coração...
Às favas com a tal superstição.
Estilhacei-o com as próprias mãos.
Depois calmamente,
recolhi os mil pedacinhos
espalhados pelo chão
e guardei-os em caixas de PRESENTE,
num ritual de solidão.
Agora, sou tal qual Alice
em mundo mágico:
Tenho mil amores em pedaços
para compor mosaicos de FUTURO bom,
                                                                                                       Pra nunca mais falar em solidão...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ACORDES...

Os acordes foram perfeitamente gravados
Num acordar de impressões dormidas
vividas em sons, cheiros
e na pele eriçada...
Dedilhando-me o corpo
foram graves e estridentemente provocantes.
Dedilhando-me a alma
foram suaves equívocos desejados
num segredar de amor.
Hoje, não estou mais LÁ,
Mas também não existe ...
Tornei-me SOL maior
infinitamente aceso
e aqueço-te as lembranças
e a guitarra vermelha
repousada na estante do quarto.

sábado, 22 de janeiro de 2011

FRIO


Detesto frio!
Todos eles.
Minhas costas doem,
Meus pés não esquentam.
E o cheiro de mofo me faz coçar o nariz,
Que também não esquenta.
O sol não aparece
E esse frio ainda durará noite afora.
Cada segundo mal dormido,
Cada movimento do pensamento
Em direção ao ponto errado
Procurando porquês.
Reviro. Atravesso a noite fria.
Esse frio que vem lá de fora de você...
Que foi.
O frio que vem dos brejos da minha alma
Orgulhosa de fingir-te nada.

Faz frio aqui fora de você
E eu fui externamente excluída
Do meu incandescente sonho de eternidade
Que quase morreu de frio
Na sarjeta fria da esquina,
Onde descobri
A dualidade tripla de nós.
Eu, você e a omissão.
Ou foi a solidão?
Talvez a decepção!
Não sei.
Só sei do gelo
Que restou do fogo de nós.
Faz frio aqui,
E eu detesto frio.
Quero esquentar os meus pés
E o meu nariz
Que mais parece o de uma cachorra vira-lata...


Mas amanhã de manhã
Faz sol de novo
Atrás do inverno gelado que vivi.
E virão flores inflamadas,
E pássaros ígneos esquentar-me a manhã,
Porque toda frieza será vencida.
Teu frio não mais contornará o meu futuro...
Não aplacará em mim, a minha febre de vida.
Amanhã de manhã.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

MISSANGAS

Outro dia arrebentou...Eu achei que nunca aconteceria, mas aconteceu...E as missangas se espalharam por toda parte...Não recolhi,mas percebi encantadaque elas ainda eram COLORIDAS...
Miúdos pecados estridentes,
clandestinamente em segredo.
Um por um, conta a conta,
Brincadeira de faz-de-conta,
Tecendo  os fios frágeis
desses sonhos de corpo
enfeitados de quintas-feiras
e vinho tinto...
E a face corava
Da menina encantada
Que virou feiticeira.
Imperfeitamente incompleto.
Outro dia, arrebentou,
Preciso contar:
Conta a conta,
Missangas espalhadas...
Não recolhi,
mas percebi,
desapegada de mim e do tempo, 
das idas e vida,
o quanto ainda eram COLORIDAS...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ATRAVESSAR-TE


Atravessar-te...
Minha sina e arte.
Com a raiz exposta
até sangrar-me
de desconhecido.
Depois, perplexa,
desvendando-te,
aprofundar-me na travessia...
Atravessar-te...
Minha sina.
Misteriosamente,
Tua "arte".

Ao pôr-do-sol, menino da arte de som, flor e dor...
Incompletamente FLOR...
cARLA sTOPA

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AMARELO IMPOSSÍVEL

Ai,
Que não quero pensar que passarás
Meu passarinho de
amarelo impossível,
que vem cumprir devagarinho
O meu penar.
Passas pertinho
De sol em sol a provocar
E como alma penada
Voa, ritual de assombrar.
Vem logo, passarinho,
Afinal , todos passarão.
Por enquanto
Só você tem ninho quentinho
E chamego no meu coração.
Deixa esse dissimulado desprezo
para a próxima canção.
Canta pra mim
A melodia
Que a gente dança
Refém de violões e assovios
A encher os quintais.
Somos quase qual espelho
Passarinho a passar...
Inho, bem devagarinho
Pra que a dor de passar,
Passe com o fim da canção
De violões e assovios
Que enche quintais de alegria
E o coração de tudo
Que não se quer passado.
 Carla Stopa

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O MEU...




Justiça seja  feita,
Sábio o que bem entendeu:
Indigno falar do TEU erro,
ele não me interessa...
Interessa-me o MEU.
     Desabafo da ESCREVENTE...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ERROS

              Minha tristeza hoje é grande, mas não evidente...Sinto-a pra dentro. Só. Até o findar do dia ou até quando for necessário. Apago a luz do quarto. Coloco a cabeça no travesseiro e fico pensando : Onde foi que eu errei? Tenho medo de abrir os porões da alma. Reviro na cama até pegar no sono. Tenho pesadelos. Os meus erros me condenam, apontam os dedos pra mim, cada um deles. No espelho o meu reflexo me acusa e os meus olhos também são dedos apontados pra mim. O bêbado da esquina ri beatífico e aponta o dedo pra mim...Na escuridão todos os dedos são fantasmas amorfos apontando-me culpada. Os meus erros são consciência latejante de vida. Vivo, logo erro! Acordo pensando, e não quero me esquecer deles, pelo menos por enquanto.
              E você? Você não tem nada com isso, ninguém tem absolutamente nada com isso. Eu não vou me justificar. Não vou perder o meu tempo ou o que sobra dele tentando explicar a minha ânsia de acertar. Ou não!
              Meu Deus, meus acertos são relativos? E os erros? Não deveriam ser relativamente questionáveis?
             Não procure analisar minha tristeza agora, eu fugiria de você. Se não consigo explicar o porquê de atitudes mesquihas em mim também não justifico a estreiteza que vejo no outro. Isso deveria ser lei. Mas nem sempre a seguiria. Impulsos gritam em mim.
              Mas  por enquanto, quero ficar aqui, na quarentena dos tristes. E não vou tentar consertar nada, corrigir um erro é cometer outro, e outro, e outro... A minha bagunça tem sentido pra mim. Sei detectar as circunstâncias que me fizeram estar a beira do pranto. Um dia, acerto.
               Errei sim. Atire a primeira pedra!
   Sou uma culpada inocente?

sábado, 15 de janeiro de 2011

FELINIDADES

De gatos ando farta.
Outro dia quase matei um.
Sete vidas eu tivesse
Sete VIDAS eu daria.
Eles vivem a viver,
Mal acostumados que dói!
Irrita-me vê-los encarinhados e cínicos. (Pois os gatos são cínicos)
E vivem a viver,
Dane-se você.
Ultimamente dei pra observar
Um de barriga magrela.
Lindo,
Cheiroso,
Pelo macio,
Felinidade pura.
Felino de olhos de estrelas,
Bichano acostumado a viver e só.
Sete vidas eu tivesse
Sete VIDAS eu daria.
E ele brinca e rola a me provocar,
Ali, à minha frente.
Às vezes, brincamos.
E rolo com ele também.
Outro dia
Deixou-me marcas,
Unhas de gato
Acostumado a viver e só.
E fomos brincando...
Uma, duas, três,
Quatro, cinco, seis...
Sete vidas eu tivesse
Sete VIDAS eu daria!
Mas eis que preciso cuidar-me
Pra não perder minhas sete vidas,
Por que depois...
Depois, eu quase matei um...
Sete vidas eu tivesse
Sete eu daria!
Mas, de gatos...
Ando farta.


Por Carla Stopa...
E SEMPRE, É POUCO...

SENTIR-SE


"Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se, e preferem a mediocridade!"
                                      Clarice Lispector 
 A descoberta do mundo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

SONHOS ALADOS

Ela pintou uma borboleta vermelha na parede do quarto.
Voou pela janela aberta.
Com ela, sonhos alados, amarelados e mofados de quereres muitos, todos maiores que os deveres e os poderes... Seriam maiores que a sua esperança de moça bonita, esperando a vida chegar?
Queria tanto!
Ser feliz bem devagarzinho e demorado como há muito ouvia falar de outras tantas por aí.
Queria a música que um dia fora dela numa intenção de sempre que fora nada ou quase nada.
Queria um vestido vermelho e um espelho inteiro para poder se olhar.
Queria um batom, um perfume bom... Quem sabe um vinho e um sapatinho de cristal trazido por um desses príncipes modernos mesmo, que ainda sabiam do amor a misteriosa sutileza.
Queria tanto!
Mas não ousava querê-los alto demais. Perigoso! Tinha gente ouvindo. Sempre tem.
Voou e sob as nuvens de algodão branquinhas que lhe enconstavam na longa cabeleira solta, chorou junto com a chuva que paradoxalmente agora também matava. Gente, bicho e sonhos...
Deu medo.
Chorou por contemplar dali miséria demais passada da conta...Miséria grande e miséria pequena... Mesquinharia de quem prioriza o ter pelo ser, depois perde tudo pra aprender... Miséria de alma, sem calma nem pudor. Miséria de alma que pode mais, sem cuidado demais pelos que não podem tanto ou nada a mais. Foi embora dali chorando a dor alheia que agora era dela também.
Voou mais alto e contemplou as estrelas. Tocou-as. Ali estava seu coração.  E, de repente, em cada uma delas um daqueles sonhos ousados eram agora como fogos de artifício em noite de lua cheia. Dança para os olhos ávidos de descobertas e de vida chegando.. Explodiam todos a sua frente... Realizavam-se em um ritual mágico de poderes, sem pudores ou rancores... Era agora e ali...O resto... Nunca existira...
O barulho foi grande.

Acordou atordoada...
Não viu a borboleta vermelha na parede.
Mas a janela continuava toda aberta a esperá-la e as suas mãos ainda estavam sujas das cores dos sonhos alados de quereres e poderes...

Por CARLA STOPA


CONTRA O TEMPO

Qualquer canção que eu faça tem sua cara... 


Rima rica...
Joia rara...
Tempestade louca no Saara...

Vander Lee - Contra o tempo

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

AMOR E MORTE


Uma violeta.
Uma confissão...
Uma provocação...
__Gosta?
__Então cuida.
O tempo passando e o óbvio:
Pontos roxos espalhados
e abandonados
na bancada FRIA de uma
cozinha.
Morre a violeta.
Assassino:
EU.
Gostar e matar...
É simples assim.
Só se percebe quando chega o fim...
POR CARLA STOPA

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VOZES E VEZES

                       Vozes e vezes...
            Ela não tinha nem um nem outro. Ouvia suas músicas bem baixinho na ausência da insensibilidade alheia, mas nunca cantava. Não se enfeitava com brilhos e laços e não pintava sua alma com as cores do carmim de um dia. Não ousava desejar nada a não ser o cardápio do dia seguinte, isso quando o marido não se adiantava.
            Vivia em função de realizar os desejos carnais do marido, exceto os sexuais, porque esses ele realizava fora de casa mesmo. E ela sabia. Refiro-me aqui aos da gula pela carne. O assado, o bife, o ensopado. e para completar, a fresca, jovem, a nova... Qualquer uma que pulsasse e acreditasse, num ímpeto de carência, nas suas ladainhas sórdidas do desejo de qualquer coisa.
             Ela tratava também os filhos adolescentes como se fossem criancinhas de colo, incapazes de tirar a casca de uma banana ou lavar um copo, motivo pelo qual ela vivia na cozinha preparando lanchinhos e fazendo faxinas. Junto, para o lixo, a beleza da vaidade adiada que tinha ficado para um dia depois.
            O marido, esse tinha voz. Bonita por sinal. Nas horas vagas cantava que encantava. Sabia usar desse artifício para vez e vez conquistar as mais desavisadas, que enfeitiçadas caíam feito patinho. Um cafajeste. Usava versos roubados e decorados sorrateiramente para serem saboreados por mil amores esparramados, ingênuos. Amores insaciavelmente fugazes.
            "Flor", "Princesa e "Gatinha" eram palavrinhas comuns no seu vocabulário. Abusava das coitadinhas para as coitadinhas que acreditavam na ilusão do amor imediato e nas doces lembranças que ficavam na boca no dia seguinte como gosto de sonho de valsa ganhados às escondidas sob os olhares curiosos dos que admiravam sua cínica sinopse de amor barato, "com você é bom qualquer lugar..."
             Outro dia se atrevou com a fulaninha da esquina. Trocaram telefone, depois trocaram e-mail. Saíram pra qualquer lugar uma vez e ele jurou que era para sempre. Ela acreditou. Ligou. O telefone deu fora de área, e mais uma vez, como de costume, ele sumiu. Mudou o caminho. Desviou da fulaninha e da esquina. Todas as vezes dele eram assim. Sem o mínimo de criatividade.
              Um dia, chegou a sua vez.
             O telefone tocou. Voz de trovão, ele esbravejou, xingou meia dúzia de palavrões baratos como suas palavras de amor barato e saiu apressado. O e-mail ficou aberto. Ela entrou no quarto para desligar o computador. Espiou. As palavras afrontavam-lhe todos os sentidos. Eram muitas. As palavras e as outras. Entre tantas, ela. E nenhuma delas eram para ela. Eram para muitas, desconhecidas, qualqueres...
             Menos uma. A fulana da esquina, da loja de cd's.
             Finalmente, chegara sua vez. Largou a cozinha e resolveu atender ao cartaz da loja da esquina que contratava vendedoras, afinal os filhos já podiam se virar sozinhos.
             Trocou os vestidos velhos pela uniforme alinhado e resolver colocar cor nos olhos e nos lábios ávidos de vida. Perfumou os cabelos e soltou a voz com Chicos e Caetanos.
              Quem perdeu a voz foi o marido, que ao voltar para a casa, chegou a cantar a própria esposa sem saber que dela se tratava. A fulana, agora amiga de infância,  fez questão de esclarecer o mal entendido mais bem feito de todos os tempos de vida daquelas mulheres.
              Agora sim ela teria voz e vez.
              E as duas enfim compartilhariam, livres, sonhos musicados de cores e aromas. De VOZ e  de VEZ.
              
              



 

MUITO PRAZER: ROLAND BARTHES E CLARICE LISPECTOR


           
Um pequeno notável.
            Meu primeiro contato com O prazer do texto de Roland Barthes se deu há muitos anos, quando ainda cursava artes plásticas na Universidade Federal de Uberlândia. Sempre amante das letras e embriagada pelo fascínio da literatura confesso que o título me pegou de sobressalto. Naquele momento, com uma leitura superficial, não me dei conta do quanto aquelas palavras haviam instigado minha alma.
            Treze anos mais tarde, por ocasião de minha preparação para o mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal de Uberlândia, lá estava ele entre as indicações para leitura. Agora uma leitura diferente, mais envolvente, mais responsável e muito mais prazer. A leitura do passado voltava à tona, e não de uma maneira tão irresponsável, como havia imaginado, mas como algo marcante, embora não parecesse. Depois foram leituras, estudos e seminários. O desejo e o prazer da leitura cresciam juntos.
            Mas o que me levou realmente a enxergá-lo como  especial foi a cena fantástica que pude assistir em minha casa. Tive o prazer de surpreender, por alguns minutos, a minha caçulinha folheando o livro. Com nove anos apenas, observava-o como que encantada. Seus olhinhos brilhavam, suas mãozinhas deslizavam pelas folhas tocando o papel com prazer. Sim, com muito prazer. Teria ela entrado no jogo de Barthes? Perguntei o que fazia. Respondeu que estava lendo e que gostaria de saber que história de prazer era aquela que havia ali. “Seria como as da Emília mamãe?” “Certamente filha.” Certamente que sim, com encantamentos e feitiçarias. Mais uma vez o título. Um título apenas e o que era prazer tornou-se fruição e devaneio nas mãos de uma criança de nove anos. Quisera que nos tornássemos assim!
            Foi esse Barthes que me encantou e que tem encantado a tantos.Como descrevê-lo então?
            Quem foi, afinal, Roland Barthes? Um teórico da literatura? Um crítico literário, teatral, cultural? Um semiólogo, analista das imagens e da moda? Um teórico da fotografia? Um filósofo? Um conselheiro sentimental? Em que corrente intelectual situá-lo? Foi um marxista? Um estruturalista? Um subjetivista? A que gênero pertencem seus escritos? Jornalístico, ensaístico, romanesco, didático? A que período: clássico, moderno, pós-moderno? De acordo com Leyla Perrone-Moisés, professora e crítica literária, “Barthes foi tudo isso, sucessiva ou concomitantemente, e acima de tudo um notável escritor que, 26 anos após sua morte, continua a fascinar os mais variados leitores, por sua inteligência e seu poder de sedução.”
                         Em O Prazer do Texto, Roland Barthes (1987) se refere ao prazer da leitura. Aparece-me logo uma analogia de natureza sexual, provocada. Provocada por Roland Barthes, que liga a escritura ao erotismo: o texto como objeto de desejo, prazer, fruição, cujo manual de delícias, seu "Kama Sutra", há de ser aprendido. No livro, ele afirma que alguns críticos têm considerado que a melhor tradução de jouissance (prazer/fruição) para o português seria precário, de um modo mais explícito, o sentido de prazer físico contido no termo original. 
                   Quem lê Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, percebe claramente esse amor erótico pelo livro, pela leitura e se contagia assim, de fascínio e sedução:

“Não era mais uma menina com seu livro,
 era uma mulher com seu amante.”
                                                                                                    Por Carla Stopa

QUANDO FUI CHUVA



ME ENCONTRO E VIVO COMO A CHUVA,
LAVANDO OS DEGRAUS, OS SONHOS E AS CALÇADAS...
ME ATIRO DAQUI
PRA NUNCA MAIS SER A MESMA...
NUNCA MAIS...

Vale conferir a letra de Maria Gadu...

Quando já não tinha espaço pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha sem ser tua

Quando já não procurava mais
Pude enfim, nos olhos teus vestidos d'água
Me atirar tranquila daqui
Lavar os degraus, os sonhos e as calçadas

E assim no teu corpo eu fui chuva
Jeito bom de se encontrar
E assim no teu gosto eu fui chuva
Jeito bom de se deixar viver

Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra a tua boca

E mesmo que em ti me perca
Nunca mais serei aquela
Que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ENSINANDO A VOAR

Vem...
Me dá tua mão...
Tá com medo? Não?
Então vem, chega pra frente...
Isso!
Não, não olha para trás.
Esquece o que passou.
Agora fecha os olhos.
Assim!
Vem, não precisa ter medo!
Eu tô aqui.
Sente o vento...
Vai, abre os braços...
Começa caminhando devagar,
depois  pode ir mais rápido,
se quiser...
Pode até correr se quiser...
Preparado?
Tá bom...
Então escuta a música
e solta teu corpo, certo?
Isso!
Agora vem,  comigo.
Viu?
Nós estamos voando...
E isso tudo pode ser nosso.
Aqui, bem pertinho.
Pronto !
Gostou?
Agora senta aqui
pertinho de mim,
e não conta pra ninguém tá.
Segredo.
Eu volto pra gente passear pelas estrelas.

Por
Carla Stopa

MÚSICA DE CHICO BUARQUE NA TV

         
        Em Mente Aberta, no dia 10 de janeiro, DANILO CASALETTI fala das histórias de amor das canções de Chico Buarque que vão poder ser vistas na TV. A microssérie Amor em 4 atos vai dramatizar – e romantizar – quatro grandes músicas do compositor. A série foi toda gravada em São Paulo e é uma parceria da Globo com a produtora RT Features. Os episódios serão exibidos de 11 a 14 de janeiro, pela TV Globo, logo após o Big Brother Brasil 11.
          O primeiro deles foi batizado de Meu único defeito foi não saber te amar e tem como inspiração a canção Mil Perdões. O casal Lauro (Dalton Vigh) e Maria (Carolina Ferraz) vive uma crise no casamento. Um dos motivos é o ciúme que Maria tem da ex-mulher de Lauro, Dora (Gisele Froes). Em uma festa, Lauro, Maria e Dora, mais o namorado dela, Fernando (Dudu Azevedo), se encontram. O clima de comemoração acaba alterando o rumo da vida deles. A direção é de Roberto Talma e Tande Bressane.
          Com direção de Tadeu Jungle, Ela faz cinema tem como fonte a canção homônima de Chico lançada pelo compositor em 2006. Uma nova cineasta (Marjorie Estiano) está empenhada em fazer um vídeo clipe da música Construção (também de Chico) interpretada por Arnaldo Antunes. Mas uma obra em um apartamento vizinho acaba com seu sossego. É nesse clima que ela conhece o pedreiro da obra, vivido por Malvino Salvador, por quem ela se apaixona.
          Os terceiro e quarto episódios são ligados entre si e levam os nomes das canções Folhetim e As vitrines. Protagonizados por Vladimir Brichta, Camila Morgado e Alinne Moraes, eles contam a história de um triângulo amoroso repleto de encontros e desencontros. Esses últimos capítulos têm a direção do cineasta Bruno Barreto.
          Além das centenas de canções feitas ao longo de mais de 40 anos de carreira, Chico já escreveu quatro livros: Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003) e Leite derramado (2009). Em 2010, Chico ganhou o Jabuti 2010 de melhor livro de ficção do ano por Leite derramado. A escolha gerou polêmica. Um grupo se mobilizou na internet pedindo que o artista devolvesse o prêmio. A alegação era a de que Se Eu Fechar os Olhos Agora, livro do jornalista Edney Silvestre, deveria ser o vencedor, já que foi o primeiro colocado da categoria Romance, batendo o mesmo Leite Derramado, segundo no grupo. Chico não devolveu.
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