quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

MUITO PRAZER: ROLAND BARTHES E CLARICE LISPECTOR


           
Um pequeno notável.
            Meu primeiro contato com O prazer do texto de Roland Barthes se deu há muitos anos, quando ainda cursava artes plásticas na Universidade Federal de Uberlândia. Sempre amante das letras e embriagada pelo fascínio da literatura confesso que o título me pegou de sobressalto. Naquele momento, com uma leitura superficial, não me dei conta do quanto aquelas palavras haviam instigado minha alma.
            Treze anos mais tarde, por ocasião de minha preparação para o mestrado em Teoria Literária na Universidade Federal de Uberlândia, lá estava ele entre as indicações para leitura. Agora uma leitura diferente, mais envolvente, mais responsável e muito mais prazer. A leitura do passado voltava à tona, e não de uma maneira tão irresponsável, como havia imaginado, mas como algo marcante, embora não parecesse. Depois foram leituras, estudos e seminários. O desejo e o prazer da leitura cresciam juntos.
            Mas o que me levou realmente a enxergá-lo como  especial foi a cena fantástica que pude assistir em minha casa. Tive o prazer de surpreender, por alguns minutos, a minha caçulinha folheando o livro. Com nove anos apenas, observava-o como que encantada. Seus olhinhos brilhavam, suas mãozinhas deslizavam pelas folhas tocando o papel com prazer. Sim, com muito prazer. Teria ela entrado no jogo de Barthes? Perguntei o que fazia. Respondeu que estava lendo e que gostaria de saber que história de prazer era aquela que havia ali. “Seria como as da Emília mamãe?” “Certamente filha.” Certamente que sim, com encantamentos e feitiçarias. Mais uma vez o título. Um título apenas e o que era prazer tornou-se fruição e devaneio nas mãos de uma criança de nove anos. Quisera que nos tornássemos assim!
            Foi esse Barthes que me encantou e que tem encantado a tantos.Como descrevê-lo então?
            Quem foi, afinal, Roland Barthes? Um teórico da literatura? Um crítico literário, teatral, cultural? Um semiólogo, analista das imagens e da moda? Um teórico da fotografia? Um filósofo? Um conselheiro sentimental? Em que corrente intelectual situá-lo? Foi um marxista? Um estruturalista? Um subjetivista? A que gênero pertencem seus escritos? Jornalístico, ensaístico, romanesco, didático? A que período: clássico, moderno, pós-moderno? De acordo com Leyla Perrone-Moisés, professora e crítica literária, “Barthes foi tudo isso, sucessiva ou concomitantemente, e acima de tudo um notável escritor que, 26 anos após sua morte, continua a fascinar os mais variados leitores, por sua inteligência e seu poder de sedução.”
                         Em O Prazer do Texto, Roland Barthes (1987) se refere ao prazer da leitura. Aparece-me logo uma analogia de natureza sexual, provocada. Provocada por Roland Barthes, que liga a escritura ao erotismo: o texto como objeto de desejo, prazer, fruição, cujo manual de delícias, seu "Kama Sutra", há de ser aprendido. No livro, ele afirma que alguns críticos têm considerado que a melhor tradução de jouissance (prazer/fruição) para o português seria precário, de um modo mais explícito, o sentido de prazer físico contido no termo original. 
                   Quem lê Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, percebe claramente esse amor erótico pelo livro, pela leitura e se contagia assim, de fascínio e sedução:

“Não era mais uma menina com seu livro,
 era uma mulher com seu amante.”
                                                                                                    Por Carla Stopa

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