CATAR FEIJÃO
João Cabral de Melo Neto
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.
Escrever é uma arma da vida. Assemelha-se aos nossos instintos. Para Armindo Trevisan, num século como o nosso, em que se reprimem as emoções, ou elas são sistematicamente eliminadas, a poesia dificilmente aparece. Nosso existir cotidiano obriga-nos a abafar a imaginação, a ignorar os sentimentos. Sendo um sonho fora do sono, a poesia exige a libertação do subconsciente.
A poesia não pretende dizer o óbvio, ela pretende levar o leitor para fora do seu círculo habitual, fazê-lo sonhar, pensar juntos e relaciona-se com o tempo e espaço de vida.
É profunda sim... Às vezes leve, mas essa não é sua intenção maior, pois é insustentável...
Ela é sedutora... Provocante... Reflexiva... Emoção saboreável... Desafio... Uma forma de apalpar as coisas com o coração.
Ora, a sua profundidade pode sim harmonizar-se com a sua leveza.
Mas eu, prefiro a agressividade, a profundidade, prefiro sair da minha zona de conforto e desafiá-los a viajar comigo, através da minha poesia ou das minhas linhas tortas de palavras em pedras...
Rejeito a superficialidade...
"Nem os meus desalentos serão rasos..."
Não consigo ficar sem visitar seu perfil...rsrsr(risos) É tudo tão contagiante e nos remete a pensar em varias situações perfeitoooo!!!
ResponderExcluirAbração de urso